terça-feira, 24 de julho de 2012

São Jorge Caiu do Cavalo ?

São Jorge sem cavalo?

Diferente da imagem tradicional, São Jorge está no chão com os pés no lombo do dragãoFoto: jf
Diego Redel
Tem coisas que parecem inseparáveis. Avião sem asa e fogueira sem brasa viraram música. Circo sem palhaço e namoro sem abraço, também. São Jorge e seu cavalo branco, inclusive.
Mas a parceria não é tão inseparável assim. Pelo menos na igreja de Vígolo, no Santuário de Madre Paulina, em Nova Trento.
Lá, São Jorge enfrenta o dragão no chão. Destemido, aparece com os pés no lombo do monstro e com a lança de aço na boca do bicho.
Não chega a ser uma demanda. Mas a ausência do animal gera questionamentos entre os visitantes. Afinal, trata-se de um santo guerreiro que, pelo sincretismo popular, conquistou altares católicos e gongás umbandistas.
- Eu acho este aqui mais valente. No cavalo é mais fácil enfrentar a fera, assim parece mais forte e protetor das pessoas -  custou a acreditar que esse é o meu  São Jorge.
- O nome diz que é, mas a gente fica na dúvida. São Jorge sem cavalo é uma coisa meio sem graça 

- Cavaleiro não precisa de cavalo? 

- Só se ele (o santo) veio a cavalo, mas desceu quando viu o monstro dominado.
, não existem dados sobre a origem da imagem. Mas, algumas informações do prédio, que se chamaria Capela de São Jorge, sugerem caminhos.
A obra, construída entre 1876 e 1879, foi feita pelos moradores do distrito. Antes da conclusão, os planos mudaram: o padre Marcello Rochi decidiu por uma nova igreja.
Enquanto era esculpida uma gruta em homenagem à Nossa Senhora de Lourdes, a quem venerava, a capelinha de São Jorge vinha abaixo.
Apesar da aparente perda de território, São Jorge está bem cotado nas lojas que vendem lembrancinhas. Numa banca, a imagem é a quinta mais vendida.
Como Santa Madre Paulina e Nossa Senhora da Aparecida são consideradas imbatíveis, o santo guerreiro estaria em terceiro lugar na preferência dos fiéis:
- A gente só encomenda peças para a fábrica do São Jorge verdadeiro, o do cavalo - conta a vendedora Inês Batistti.

São Jorge é mesmo famoso. Não se sabe como, mas acabou patrono da Inglaterra. Pode ser que a fama tenha se espalhado pelos soldados que retornavam das Cruzadas. Em 1348, o rei Eduardo 3º fundou a Ordem dos Cavaleiros de São Jorge. O santo é padroeiro também de Portugal e da Catalunha.
Hoje, o santo guerreiro também mantém as preferências nos campos de futebol e nas quadras de escolas de samba. Em 1910, o Sport Club Corinthians o escolheu como padroeiro. Nas quadras da Beija-Flor, em Nilópolis, e do Império Serrano, no bairro carioca de Madureira, as estátuas de Jorge e seu cavalo branco sugerem proteção.

A história do São Jorge sem cavalo chegou ao arcebispo dom Murilo Krieger, em Florianópolis. Como tanto outros visitantes do santuário, ele não percebeu a imagem diferente exposta no altar da igreja de Vígolo.

Mas achou engraçado o fato do Jorge da Capadócio estar desacompanhado de seu, até então inseparável, amigo quadrúpede. - Jorge e seu cavalo fazem parte do imaginário popular - reconhece dom Murilo.
Ainda assim, explica, não existe nenhuma obrigação da presença do animal ao lado do soldado de capa vermelha e armadura em prata. Hoje, conta, durante o processo de santificação, a Santa Sé pede uma imagem oficial (fotografias) que caracterize a ação da pessoa em vida.
Na época do Império Romano não havia fotógrafos.
Talvez por isso, o cavalo tenha sido sacrificado em algumas imagens.
Ou alguém vai pensar que São Jorge caiu do cavalo?

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