sexta-feira, 30 de agosto de 2013

INVEJAS e Olhos Grande

Invejas

Outro dia me perguntaram se a inveja era realmente um sentimento nocivo e se as “maldadezinhas” sociais eram atitudes derivadas dela e ao final me lançaram a seguinte pergunta:
“Jorge, o que é afinal a inveja?”
Lembrei-me na hora do conto de fadas, em que as duas filhas da madrasta, feias e enciumadas da beleza delicada da filha do padrasto delas, tentam transformar a vida da Gata Borralheira num suplício. O trio de invejosas aproveitava a ausência do pai da linda menina para maltratá-la e humilhá-la.
Já se pode bem compreender que a inveja é um sentimento direcionado a algo bom. É um derivativo perverso do desejo de ser ou de ter um contexto ou mesmo algo.
Daí, a inveja das três pela beleza da gata borralheira, pela sorte do destino de alguém. Uma pessoa também pode invejar a família que você formou, a sua estabilidade emocional, a presença de pais amorosos na sua vida, a sua compra de uma casa, o seu sucesso, a sua viagem, a sua perda de peso, o seu cabelo e a cumplicidade que conquistou como casal. Pode também invejar a trajetória bem sucedida de seus filhos e a chegada de uma grande e boa notícia...
O invejoso tem sempre uma maldade contida no pensamento e tem o secreto momento delícia, como o anuncio da margarina em que no provador de uma loja diante de duas vendedoras a apresentadora Fernanda Lima não consegue fechar uma calça... Elas suspiram de prazer e alívio... Dá já para entender bem!!!
Fui assistir no Teatro Leblon, sala Fernanda Montenegro, a peça “Cruel” com Gianecchini, Maria Manuela em excelente atuação e Erik Marmo, num texto do teatro íntimo de Strindberg, onde disse que nesta concepção ele iria mostrar a vida em breves instantes. Em uma montagem de setenta minutos, testemunhamos o perverso e o sutil plano de um marido abandonado, para destruir o segundo casamento da ex-esposa. Com esta finalidade se aproxima do atual marido dela sem que ele pudesse supor que era o ex e se faz de amigo. O personagem de Gianecchini estabelece um mímico laço de cumplicidade e amizade de modo a despertar a confiança e fazer com que o outro abra o coração e se deixe influenciar pelas palavras escamoteadas e maléficas... Palavras cruéis. Neste intento derivado do despeito e da inveja tenta destruir o que desejava, mas não mais poderia ter. Tenta minar a segurança da ex através das sutis insinuações que ela estava envelhecida...
Quantas vezes podemos testemunhar esses comentários venenosos!!!
A inveja é um sentimento muito mais presente no cotidiano do que as pessoas imaginam. Ela pode ser uma admiração envenenada.
Conheço a história de uma mulher que admirava tudo que a irmã havia conquistado: o casamento; a família e a satisfação, mas a realidade da outra representava um desejo que não foi realizado. Quando nasceu o caçula e a irmã a chamou para ser madrinha, foi suscitando nela uma inveja que despertou um ressentimento pela vida que a tornou uma solteira amarga e crítica, maníaca. Quem já não viu a boa solteirona, mas que é no convívio uma mulher tensa e crítica?
Já vi também noras terem comportamento hostis com os sogros e a sogras por no fundo invejarem a aura familiar de cumplicidade e de amor que os constituem no contexto.
De fato a arte imita a vida.
Quando testemunhamos nas novelas, nos seriados cenas de inveja como no filme Desejo e Reparação do diretor Joe Wright, em que conta a história de Briony de treze anos que usa a imaginação de escritora para acusar Robbie Turner, filho do caseiro e namorado da irmã mais velha dela Cecilia, de um crime que ele não cometeu. A acusação destruiu de forma dramática o destino das pessoas envolvidas. Por desejar Robbie e invejar a condição de mulher da irmã, arma este plano perverso. 
As situações podem parecer exacerbadas para o plano real. No entanto a vilania é muito mais presente do que as pessoas imaginam e por vezes acontecem em comentários maldosos disfarçados sob o tom aveludado da fala nos almoços nos clubes e mesmo nas reuniões de trabalho.
No conto da gata borralheira, as irmãs postiças invejam a beleza e a juventude... Em outro conto, temos a história da bruxa má que envenena a maçã para colocar a Branca de Neve no sono da morte. 
Estas histórias narram e anunciam as questões do desejo e da derivação invejosa que a condição positiva de uma pessoa pode suscitar, mas as pessoas têm preconceito em enxergar que quem nos ama pode viver este sentimento de modo ambíguo, pois nele poderá encontrar contida a inveja.
A inveja é um ciúme da boa destinação do outro. 
Temos atualmente na novela Amor a Vida o ciúme invejoso do Felix pela irmã amada pelo pai que o rejeita. Encontramos na Bíblia a inveja assassina em Caim por Abel.
Na crônica do Veríssimo no O Globo, intitulada “A Explicação” ele escreveu: “Já se especulou como a História seria outra se Adolfo Hitler tivesse se tratado com seu conterrâneo e contemporâneo Sigmund Freud, em Viena. Curado de seus complexos e fobias, Hitler teria abandonado a ideia de dominar o mundo e se contentado em dominar um só quarteirão...”
Talvez, através desta suposta análise, Hitler tivesse um menor sentimento de rejeição e inferioridade e com isso conseguisse eliminar nele a necessidade desmedida de busca de poder para compensar a falta de valor que carregava em si. Quem sabe teria menos ódio daquilo que não havia obtido em sua vida e teria menos inveja daqueles que desejava dominar e daqueles que queria eliminar? 
O Vilão maltrata apenas quem é significante aos olhos dele, quem representa algo que o toca e por isso o incomoda. 
Barrar o Hitler na academia de belas Artes em Viena e outras tantas vivências de rejeição gerou naquela estrutura o “Invejoso” e “Tirano Perverso”... A História fala por si.
Portanto as situações de felicidade, de contentamento e de alegrias, trazem os bons destinos, mas aportam junto o olhar hostil e envenenado daqueles que não conquistaram e não souberam fazer um apaziguamento da própria frustração.
Respondendo a pergunta sobre se de fato a inveja existe nos próximos.
Digo: Sim.
A inveja pode existir em todos nós de alguma maneira.
Diante deste “Olho Grande” o que fazer?
Primeiro compreender que quem inveja está destituído de algum senso de autoestima, de algum senso de valor e carrega uma falta de si... Carrega frustrações sem elaborações...
Envenena com ressentimentos o coração.
Envenena a maçã.
O antídoto?
Exercitar o olhar de gratidão sobre as próprias conquistas para que possa a ternura que brota limpar a venenosa inveja.
Contra o veneno alheio?
Do Olho Grande se defende com Olho Vivo!

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