sexta-feira, 17 de maio de 2013

Salve Jorge chega ao fim


Entre (muitos) erros e alguns (poucos) acertos, Salve Jorge chega ao fim


Russo (Adriano Garib), Wanda (Totia Meirelles), Lívia (Claudia Raia),
Rosângela (Paloma Bernardi) e Irina (Vera Fischer)
Se você me perguntar o que eu vou guardar de Salve Jorge, respondo na lata: a ousadia de Glória Perez em investir num tema espinhoso, como o tráfico de seres humanos, e numa heroína favelada, prostituída e sem um pingo de juízo na cabeça. Pode me chamar de Poliana, mas prefiro mesmo ver o lado bom da vida. Mas é inegável que vou ficar marcado também pela pior e mais incompetente vilã dos 50 anos da telenovela brasileira. Não bastasse a péssima atuação de Claudia Raia no início da trama (na reta final melhorou um pouco), Lívia Marini sempre foi de um amadorismo ímpar e ainda se cercou pela gangue mais trapalhona e acéfala possível. Wanda (Totia Meirelles), Russo (Adriano Garib), Irina (Vera Fischer) e Rosângela (Paloma Bernardi) não deram uma dentro. Nenhuma ação ou atentado cometido por eles funcionou e os assassinatos de Jéssica (Carolina Dieckmann) e Rachel (Ana Beatriz Nogueira) foram realizados em locais públicos e da forma mais imprudente possível. Típico ato de bandidos de quinta categoria.
Jessica (Carolina Dieckmann) e Rachel (Ana Beatriz Nogueira)
Até mesmo o sequestro da bebê Jéssica abusou da boa vontade do espectador. Numa casa com três mulheres, sendo que Neuma (Bianca Haddad) não faz absolutamente nada o dia todo, nenhuma delas poderia fazer uma jarra de suco? Tinham que encomendar de dona Diva (Neusa Borges)? Que preguiça foi essa, Gloria Perez? Não dava para criar uma sequência para o rapto que não subestimasse a inteligência das pessoas? Se não fossem as brilhantes atuações de Totia Meirelles (eleita Melhor Atriz Coadjuvante de 2012, no 15º Prêmio Contigo! de Televisão) e Adriano Garib, tudo poderia ser ainda mais catastrófico. Eles deram credibilidade às patacadas que seus personagens cometiam. Já Vera Fischer devia se aposentar enquanto ainda há alguma dignidade em sua carreira decadente. E Paloma Bernardi se saiu bem, é verdade, mas não foi nada de muito extraordinário…
Stenio (Alexandre Nero), Helô (Giovanna Antonelli), Drika (Mariana Rios)
e Pepeu (Ivam Mendes)
Já entre os mocinhos, Giovanna Antonelli foi o destaque maior da novela. Sua delegada Helô era profundamente humana. Profissional astuta, mãe relapsa e incapaz de se relacionar com a filha e dona de uma vida afetiva instável. Ela ainda era viciada em compras, compulsão pessimamente aproveitada na novela e que poderia ter rendido muito mais. Helô tinha humor, sem ser cômica, e formou um par romântico supimpa com sempre maravilhoso Alexandre Nero. A expressão catatônica do vaidosíssimo Stenio recebendo a noticia de Drica (Mariana Rios) e Pepeu (Ivam Mendes), de que ia ser avô, foi antológica. Da ótima química de Giovanna e Alexandre só lamento as ridículas cenas de fantasias sexuais que não combinavam em nada com os dois personagens.
Ricardo (Alexandre Barros), Murilo Grossi (Almir) e Jô (Thammy Miranda)
Curti muitíssimo também a participação de Alexandre Barros, como o delegado Ricardo, que trouxe seriedade para o núcleo dos investigadores. Murilo Grossi (Almir) foi outra ótima aquisição para a novela e a evolução de Thammy Miranda (Jô) como atriz me deu muita alegria. Espero que ela faça ouros trabalhos na casa. Quem sabe até um triângulo amoroso com Odete Roitman (Luma Costa) e Tamanco (Mart’Ália), na segunda temporada de Pé na Cova? Fica a dica! Mas, do fundo do meu coração, espero um dia esquecer os constrangedores show de Lohana, ao som dos hits da “mama” Gretchen. Tanto Thammy quanto o público poderiam ter sido poupados daquele vexame explícito.
Jô (Thammy Miranda)
É verdade que Gloria deixou a desejar nessa novela de tantas possibilidades incríveis e desenvolvimento capenga. Mas eu credito a maior parte da culpa à equipe de direção comandada por Marcos Schechtman. Depois de duas direções absolutamente modernas e gerais, em Avenida Brasil e Cheias de Charme, foi duro acompanhar durante 179 capítulos, um trabalho preguiçoso, sem brilho e com uma direção de atores das mais fracas. Quem teve acesso aos capítulos escritos pela autora vibrava com várias cenas, mas acabava na mais profunda frustração quando elas iam ao ar. Decepcionante também, o desenvolvimento da cultura turca na trama, muito menos aproveitada do que a indiana (Caminho das Índias, 2009) e a marroquina (O Clone, 2001). Nem mesmo as boas expressões “Merhab” (olá),
“Güle Güle” (tchau) e “Allah, Allah” (meu Deus)” pegaram!
Mustafa (Antonio Calloni), Aisha (Dani Moreno) e Berna (Zezé Polessa)
Apesar da minha profunda antipatia pela Aisha (Dani Moreno), a trajetória da personagem em sua busca obsessiva pela família biológica foi muito bem desenvolvida. Na verdade, teria sido melhor se Aisha tivesse descoberto, logo no início, que havia sido traficada. Isso emprestaria mais força e credibilidade ao desejo de descobrir de onde veio e daria mais tempo para ela acertar as arestas com a mãe que a roubo e a criou (Berna, vivida por Zezé Polessa) e se adaptar à realidade da mãe biológica, após o gigantesco choque cultural que enfrentou ao conhecê-la. Do jeito que ficou, Aisha parecia uma filha adotiva ingrata e uma garota mimada e preconceituosa que preferiu duas mães bandidas a uma pobre, escandalosa, só que 100% honesta e do bem.
Ayla (Tânia Khalill), Zyah (Domingos Montagner) e Bianca (Cleo Pires)
Eu esperava muito do romance entre Bianca e Zyah, afinal, Cleo Pires e Domingos Montagner pareciam ter uma química explosiva. Mas o que vimos foi uma sucessão de erros, com a brasileira pagando mico atrás de mico na Turquia, rastejando por um homem casado e que sempre deixou claro que nunca abriria mão de sua cultura e de seus valores por causa dela. Domingos ao menos viu Zyah se envolver na trama principal, ao ficar amigo de Morena (Nanda Costa) e Théo (Rodrigo Lombardi), mas Cleo, coitada, passou a novela toda fazendo caras e bocas, como um patético fantasma vagando por uma mansão abandonada sem ter o que fazer.
Ceso (Caco Ciocler), Raissa (Kiria Malheiros), Antonia (Letícia Spiller) e Carlos (Dalton Vigh)
Se o caso de amor entre Antônia (Letícia Spiller) e Carlos (Dalton Vigh) não convenceu, pelo menos o drama da alienação parental, com Celso (Caco Ciocler) jogando Raíssa (Kíria Malheiros) contra a mãe, foi muito bem executado. Diferente do dia a dia no Morro do Alemão, que só trazia Diva fazendo fofoca, Maria Vanúbia (Roberta Rodrigues) batendo boca com Lurdinha (Bruna Marquezine) e Delzuite (Solange Badim) e Pescoço (Nando Cunha) de butuca vendo a vizinha tomando banho de sol na laje. Verdadeiras caricaturas!
Aida (Natália do Vale), Leonor (Nicette Bruno), Isaurinha (Nívea Maria), Érica (Flávia Alessandra) e Élcio (Murilo Rosa)
Salve Jorge ficará marcada ainda pelo maior desperdício de atoes da história: Natália do Vale (Aída), Ana Beatriz Nogueira (Rachel), Nicette Bruno (Leonor), Nívea Maria (Izaurinha), Stenio Garcia (Arturo), Suzana Faini, (Áurea), Rosi Campos (Cacilda), Flávia Alessandra (Érica), Eva Todor (Dália), Fernanda Paes Leme (Marcia), Murilo Rosa (Elcio), Odilon Wagner (Thompson), Betty Gofman (Sarila), Elizângela (Esma), Ernani Moraes (Kemal), Narjara Turetta (Buque), Cristiana Oliveira (Yolanda), André Gonçalves (Miro), Cris Viana (Julinha), Sidney Sampaio (Ciro), Walderez de Barros (Cyla), Anderson Muller (Murat), e Jandira Ferrari (Vó Farid) e até mesmo Rodrigo Lombardi, que teve pouco a fazer no enredo. Mesmo assim, alguns poucos sortudos saíram no lucro: Nanda Costa, Dira Paes (Lucimar), Antônio Calloni (Mustafá), Zezé Polessa (Berna), Lizandra Souto (Amanda), Luci Pereira (Creusa), além de Giovanna, Nero, Nando Cunha, Garib, Duda Ribeiro (Adam) e Totia, obviamente!
Walska (Laryssa Dias), Demir (Tiago Abravanel), Tamar (Yanna Lavigne)
e Rayanne (Aimée Madureira)
E Salve Jorge ainda lançou belos talentos para nossa telinha: Thammy, Laryssa Dias (Waleska), Tiago Abravanel (Demir), Dan Moreno, Luiz Felipe Melo (Júnior), Kiria Malheiros (Raíssa), Mila Freitas (Carol), Karina Ferrari (Samanta), Aimée Madureira (Rayanne) e Yanna Lavigne (Tamar). Resumo da ópera: entre tantos mortos e feridos e mulheres surradas para alavancar a audiência, Salve Jorge encerra sua tumultuada trajetória repleta de (muitos) erros e alguns (poucos) acertos. Que todos nós tenhamos mais sorte com Amor à Vida, que está chegando!!!

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